O saneamento básico é um dos pilares fundamentais para garantir a saúde pública, a qualidade de vida e a preservação do meio ambiente. No Brasil, a situação do saneamento básico ainda enfrenta desafios significativos, apesar de avanços nos últimos anos. O acesso a serviços de água tratada, coleta e tratamento de esgoto, manejo de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais continua desigual entre diferentes regiões e classes sociais.
Neste artigo, vamos abordar o estado atual do saneamento e limpeza de esgoto básico no Brasil, explorando suas principais deficiências, conquistas recentes, e as implicações para o desenvolvimento do país.
1. O Que é Saneamento Básico?
Antes de entrar na situação do Brasil, é importante compreender o que é o saneamento básico. De acordo com a Lei nº 11.445/2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o setor, o saneamento básico envolve quatro componentes principais:
- Abastecimento de água potável: Acesso à água tratada e segura para o consumo humano.
- Esgotamento sanitário: Coleta e tratamento adequado dos esgotos domiciliares.
- Manejo de resíduos sólidos: Coleta, tratamento e disposição final adequada do lixo.
- Drenagem urbana e manejo das águas pluviais: Controle de enchentes e alagamentos em áreas urbanas.
A falta de um desses serviços tem impactos negativos diretos na saúde pública, no meio ambiente e na qualidade de vida da população.
2. Panorama Atual do Saneamento no Brasil
Acesso à Água Potável
O Brasil, um país rico em recursos hídricos, enfrenta o paradoxo de ainda ter milhões de pessoas sem acesso a água tratada. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), cerca de 35 milhões de brasileiros (17% da população) não têm acesso à água potável em suas residências. Esse problema é mais grave em áreas rurais e periferias urbanas, onde a infraestrutura é precária ou inexistente.
As regiões com maior déficit de abastecimento de água são o Norte e o Nordeste, onde a cobertura de serviços de água potável é consideravelmente inferior à média nacional. Isso se deve a uma combinação de fatores, como a baixa densidade populacional em áreas rurais, falta de investimentos e dificuldades geográficas.
Coleta e Tratamento de Esgoto

O setor de esgotamento sanitário é um dos mais críticos. Cerca de 50% da população brasileira (mais de 100 milhões de pessoas) não tem acesso à coleta de esgoto. E, pior, apenas 49% do esgoto coletado no Brasil é efetivamente tratado, o que significa que uma enorme quantidade de resíduos é despejada diretamente em rios, lagos e mares, contribuindo para a poluição hídrica e problemas ambientais.
Esse déficit é especialmente preocupante em cidades das regiões Norte e Nordeste, mas também afeta periferias de grandes metrópoles em outras regiões do país. A falta de saneamento adequado contribui para a propagação de doenças, como diarreia, hepatite A e cólera, especialmente entre crianças.
Manejo de Resíduos Sólidos
No que se refere à gestão de resíduos sólidos, o Brasil também enfrenta desafios significativos. Embora a coleta de lixo atinja cerca de 92% dos domicílios, grande parte do lixo coletado ainda tem como destino aterros sanitários inadequados ou até mesmo lixões a céu aberto. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), cerca de 17% do lixo gerado no Brasil é descartado de forma incorreta.
Os lixões, que deveriam ter sido extintos desde 2014 conforme o prazo estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), ainda são uma realidade em várias cidades, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Esses locais representam uma grave ameaça ao meio ambiente e à saúde pública, liberando gases de efeito estufa e contaminando o solo e as águas subterrâneas.
Drenagem Urbana e Controle de Enchentes
A falta de infraestrutura de drenagem urbana é outro problema sério nas cidades brasileiras, especialmente em áreas urbanizadas de forma desordenada. Enchentes e alagamentos são comuns em grandes cidades durante o período de chuvas, causando prejuízos materiais, impactos ambientais e, muitas vezes, resultando em tragédias humanas.
Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, por exemplo, enfrentam alagamentos recorrentes em decorrência da insuficiência de sistemas de drenagem, que não foram planejados para suportar o crescimento urbano acelerado. Além disso, a impermeabilização excessiva do solo, devido ao asfalto e à pavimentação, contribui para o agravamento das enchentes.
3. Impactos da Falta de Saneamento Básico
A ausência ou precariedade dos serviços de saneamento básico tem impactos profundos em várias esferas:
Saúde Pública
A falta de saneamento está diretamente relacionada à proliferação de doenças de veiculação hídrica, como diarreia, leptospirose, hepatites e dengue. Estima-se que cerca de 15 mil mortes por ano no Brasil sejam causadas por doenças relacionadas à falta de saneamento básico, a maioria delas envolvendo crianças de até 5 anos.
Meio Ambiente
O despejo inadequado de esgoto e lixo causa contaminação dos corpos d’água, degradação do solo e perda da biodiversidade. Rios que cortam grandes cidades, como o Tietê (São Paulo) e o Capibaribe (Recife), estão altamente poluídos devido ao esgoto não tratado, afetando a fauna e flora e prejudicando o uso dessas águas para fins recreativos e produtivos.
Economia
A ausência de saneamento também representa um peso econômico. O impacto é visto tanto nos custos com saúde pública (devido ao aumento de doenças), quanto nos custos com perda de produtividade e absenteísmo no trabalho. Além disso, o saneamento inadequado prejudica o turismo e outras atividades econômicas dependentes de recursos naturais, como a pesca.
4. Avanços Recentes e Desafios
Nos últimos anos, houve alguns avanços na área de saneamento, impulsionados principalmente pela Lei do Novo Marco Legal do Saneamento Básico (Lei nº 14.026/2020). Essa lei estabelece novas metas para universalizar o saneamento no Brasil até 2033, buscando garantir que 99% da população tenha acesso à água potável e 90% à coleta e tratamento de esgoto.
Principais metas da lei:
- Universalização dos serviços até 2033.
- Abertura do setor para a participação da iniciativa privada, permitindo maior concorrência e investimentos.
- Estabelecimento de metas claras para que estados e municípios melhorem seus serviços de saneamento, sob pena de perderem acesso a recursos federais.
Embora o marco legal seja um passo importante, sua implementação enfrenta desafios. Há uma necessidade urgente de investimentos significativos (estimados em R$ 700 bilhões) e de fortalecimento da governança para garantir que as metas sejam cumpridas. A falta de infraestrutura adequada, especialmente nas regiões mais pobres, exige soluções regionais e integradas.
Conclusão
A situação do saneamento básico no Brasil ainda está aquém do ideal, com milhões de brasileiros sem acesso a serviços essenciais de água tratada e esgotamento sanitário. Embora o Novo Marco Legal do Saneamento traga esperança de melhorias, a universalização desses serviços requer grandes esforços de planejamento, investimento e execução. O saneamento básico é fundamental não apenas para a saúde pública, mas também para o desenvolvimento econômico sustentável e a preservação do meio ambiente.
Investir no saneamento é investir em um futuro mais saudável e justo para toda a população.
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